o medo contigo de mãos dadas
apanho pedaços de lua que a noite vai distribuindo
___________apenas escassos sinais
ela______________é como um rio__________a noite
que fendas ou poços se abriram
engolindo segredos
como facas ou espadas
que a ferrugem come
a comunhão com o mundo de L´Étranger_______o absurdo
e da estranheza de ser
das verdades______mais nuas e cruéis
por vezes o poeta que se quer à sua própria medida recusando a divindade trava com Deus à maneira de Régio um diálogo desesperado______"Senhor. se tu assim quiseste. fecha-me no meu corpo. e morre tu comigo_________________neste silêncio morto"
vive no vítreo olhar teu
a culpa e o medo
o perigo não pesou muito sobre a memória essencial. aquela - graças à qual nos reconhecemos ao acordar - aquela - que irriga a alma onde navegam os nossos deuses os nossos demónios - onde se depositam os factos de cada dia e onde a vida já percorrida cava a sua íntima perspectiva__ produziram-se um desarranjo brusco que perturbava o uso da palavra
__________não sou capaz de datar as manifestações iniciais desse desarranjo
lobo na neve
é nave e catedral
a sua fome puríssima
é o único vitral
que espelha o céu todo inteiro
só são cruéis os fantasmas_________ele é real
____________que distância avistava eu as palavras formadas pela minha mão à frente dos meus olhos
muitas léguas para além dos cactos onde me pico por desdém
os céus interrogam. de repente - o que podia deixar de existir_________ permanecendo viva. no fundo mesmo no fundo de nós - atrás dos muros das trevas onde se ausenta de nós próprios o pensamento - parte por atalhos - talvez a consciência dialogue com o Deus________ e recolha certezas aquando da morte__________ é que a alma sobrevive - mas será que a surpreendemos-à-nossa consciência?
a tua mão um dia embalou o berço_______e__________
deixou queimar poemas no fogão
é uma hóstia________ murmurei para comigo
as palavras são irresponsáveis precipitam-se ao primeiro clarão - dissipam as trevas procedem à conversão da fantasia em memória do mesmo modo que impõem aos interrogatórios da noite a coerência da sintaxe - quando - uma realidade não admite ser traduzida__________as pedras têm memória
_________que peso tem o esquecimento de um Deus
abotoaste o teu coração com botões de metal
e - embalas no teu colo___________a sombra fria
do teu ainda mais frio corpo
____________em que guardas
aquele segredo religioso - repugnante
que sabes - ser imprudente e trémulo
vive no teu vítreo olhar - a culpa e o medo
que mordam os pulsos - cantem
mas não me ofereçam pactos__________de piedosas intenções
© Betty Branco Martins
Artist : Betty Martins
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